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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

fama e anonimato

A cidade das formigas

Retrato romântico de uma cidade que parece não ter freios. São os anônimos, os personagens obscuros que fazem com que essa grande locomotiva urbana esteja sempre em movimento. Dando ênfase às “coisas despercebidas”, Gay Talese nos apresenta uma metrópole rica em detalhes que, por conta da ansiedade e agitação, características impregnadas nas ruas e pessoas, dificilmente são notados. Pormenores que fazem de Nova Iorque simplesmente Nova York.

A forma como o jornalista descreve as formigas e o fato de ninguém saber ao certo como elas conseguem escalar os prédios nos remete aos milhares de imigrantes que habitam a cidade. Muitos trazidos pelos ventos e que ainda tentam descobrir o porquê deste destino.

Os gatos representam os nova-iorquinos e suas manias. Gestos estereotipados em Seinfeld e em Friends, seriados de TV conhecidos no mundo inteiro. Sem contar os neuróticos retratados por um não menos neurótico Woody Allen. Os maiores, do topo dos prédios de Manhattan, ditam as regras. No outro extremo, os selvagens sobrevivem, seguindo as margens do rio de forma a não se perderem por completo. Como ponte entre estes dois pólos, existem os boêmios. Lucro por meio da malandragem, ora inocente, ora premeditada. Espontaneidade da capital do mercantilismo. Há também os que dão meio expediente e os full time. Trabalhadores-Combústivel-Autorrenovável.

Desta forma, com metáforas baseadas no pequeno para retratar o grande, Talese desvenda Nova York, destacando as particularidades que fazem dela um local único. E esse é apenas um dos textos de “Fama e Anonimato”, que ainda traz diversos perfis de personagens da cidade, como o de Frank Sinatra, feito sem que o autor o tenha entrevistado. Somente um olhar atento dentro da madrugada e dos porões escondidos consegue ver. Somente quem vive, sente e respira seu ar consegue entender. Assim é Gay Talese.

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